sexta-feira, dezembro 30, 2016

clipping # 7


Alguns links para esse blog abandonado:

Em sua lista de boas leituras de 2016, Tatiana Salem Levy encontrou lugar pro meu Cravos. O texto com todas as dicas está na coluna quinzenal que a escritora mantém no suplemento de cultura do jornal Valor Econômico, e o link é este (com um cadastro rápido dá pra ler na íntegra).

Minha estreia na TV foi para o Canal Curta, no programa Revista Curta! que foi ao ar no Natal, 25 de dezembro. A edição é um capricho, agradecimentos especiais à Ana Paula Mansur, que conduziu a entrevista, e ao Toni Rodrigues, que fez uma espécie de assessoria de imprensa afetiva do livro, depois de tê-lo dançado lindamente com a Lu (ainda pretendo escrever sobre isso). Clique aqui, e ainda tem a cena que mais gosto de Pina, doc do Wim Wenders, aquela em que o casal dança no meio da cidade.

Deixei passar essa bela coluna do Fred Coelho para o Segundo Caderno do Globo. Em setembro ele discorreu sobre os pequenos salvamentos que a arte nos proporciona, e cita o Cravos como uma dessas bóias de salvação. Fui aluna do Fred e desde lá paro pra ouvir o que ele tem a dizer, por escrito ou em outros meios, e portanto deu uma alegria especial figurar nesse texto

E pra não parecer que só vivo de passado, comecei uma série nova de textos no espaço "Temporada", da Sala Grumo, a convite da Paloma Vidal, escritora de quem sou fã. Em janeiro deve sair a continuação (assim que eu terminar de escrever), por enquanto são quatro relatos que você lê aqui

E se tudo der certo, a partir de janeiro atualizo também o endereço do Ornitorrinco com alguma coisa nova, mas não prometo nada, afinal a praia tá ganhando de lavada de qualquer tentativa de ficar no ar condicionado trabalhando.

Feliz ano novo!




terça-feira, setembro 27, 2016

clipping # 6


Duas leituras generosas do Cravos:

No blog Letras In Verso e Re Verso, Pedro Fernandes faz uma leitura cuidadosa e bem reflexiva, e gosto, particularmente, da forma como ele vê a influência da “geração mimeógrafo” em cruzamento com as escritas de si em blogs e redes sociais (mas ele vai bem além disso). O link é este.

No Literasutra, a Adélia Jeveaux foca mais no aspecto da dança e de como escrever o que é o do corpo, e gostei muito da maneira que ela faz da resenha um espaço de confissão de sua própria saudade. Clique aqui para ler. 


sábado, setembro 10, 2016


Está enganado quem pensa que o aleijado não sabe nada das sanhas do corpo. Somos nós, os mancos, os malformados, os amputados, os obesos e minúsculos, os alérgicos, os hemofílicos, os hemiplégicos, para, tri e tetraplégicos, os anões, os albinos, os sempre-gripados, a legião inteira de indivíduos salvos da seleção natural pela compaixão humana, somos nós que entendemos a glória dos músculos e tendões, as minúcias da troca de calores. (Tantas vezes imaginei jogar bola, brigar de galo, tacar pedra em vidraça!) O corpo sadio que nos falta foi refeito tantas vezes em sonho que somos capazes de inventar um novo corpo, um corpo além, um corpo além de lindo, um corpo de Cristo, mas de pele tão firme que a coroa de espinhos não feriria e os pregos não conseguiriam perfurar. Imagina quão mais belo teria saído o Davi se Michelangelo não tivesse os braços. E a Vênus de Milo.

Victor Heringer em O amor dos homens avulsos (Cia das Letras, 2016)


sexta-feira, setembro 09, 2016

clipping # 5


A edição de setembro da Vogue Brasil indica, entre outros, o Cravos.  



quarta-feira, agosto 31, 2016

clipping # 4


Fabiane Pereira me entrevistou para sua coluna que trata de literatura, feminismo e política no site Heloisa Tolipan. À parte o terceiro tópico, conversamos sobre os outros itens e, principalmente, sobre o Cravos, aqui.


segunda-feira, agosto 22, 2016

clipping #3


Conversei com o Bolívar Torres sobre o Cravos para o “Segundo Caderno” d’O Globo. Ele fez uma ótima síntese do livro e de tudo o que trocamos, leia aqui




segunda-feira, agosto 01, 2016

clipping #2


O escritor Carlos Henrique Schroeder fez uma entrevista comigo para o blog do Record. Falo um pouco sobre os bastidores de Cravos, meu romance que começa a chegar às livrarias essa semana. Leia aqui


domingo, julho 24, 2016

clipping


O Bolívar Torres, jornalista e escritor, criou a seção “Abstrações” na revista Pessoa, uma série de entrevistas surreais e divertidíssimas com as perguntas que realmente importam. Respondi a nove delas essa semana, veja aqui



sexta-feira, julho 08, 2016

Sonho #2


Acordei com a impressão de ter passado a noite abraçada a M., e escrevi para ele imediatamente, antes mesmo de me levantar para ir ao banheiro. “Sonhou comigo?” “Como você sabe?” No sonho dele a gente jogava golfe, ou melhor, eu fazia tacadas sensacionais enquanto uma amiga se encarregava de pegar as bolas. No meu a gente se encontrava num apartamento enorme na praia de Copacabana, e se abraçava tanto que era quase como esses remédios que a gente toma pra esquecer. Ele respondeu com emojis de coração. Eu disse que depois de um tempo a namorada dele ficava meio brava, e ele disse que na vida real isso era improcedente. E combinamos, então, ficar um dia inteiro abraçados, pra ver se passa. 


quarta-feira, julho 06, 2016


Mais um texto para o blog da Intrínseca, sobre o Solteirona. O direito de escolher a própria vida, livro da jornalista americana Kate Bolick. Siga este link.




segunda-feira, junho 20, 2016

Havia dias em que eu escrevia tanto a seu respeito que ele já não era muito real, de modo que, se de repente eu ficava face a face com ele numa rua, ele parecia mudado. Eu tinha conseguido drená-lo de sua substância, eu pensava, e preenchido meu caderno com aquilo, o que significava que em certo sentido eu o matara. Mas então, quando voltava para casa, a substância parecia estar nele mais um vez, onde quer que ele estivesse, porque o que agora estava vazio e sem vida era o que eu escrevera.


Lydia Davis, O fim da história (José Olympio, 2016, tradução de Julián Fuks)


quarta-feira, maio 18, 2016

Sonho #1

Recebo um convite com um mapa e um desenho de uma biblioteca, sigo os passos indicados e vou dar no mesmo cenário ilustrado pelo papel, percebo aos poucos pelos elementos: um relógio antigo, as almofadas aveludadas do sofá e uma estranha ausência de livros, exceto pelo seu, novo, um volume de contos, e é por isso que você está ali, numa biblioteca que aos poucos se revela o segundo andar de uma livraria no Centro da Cidade, eu sou a primeira a chegar, uma saudade que não posso medir, e dou de cara com você, bigode e cabelos louros que nunca vi, me abraça e me beija com uma saudade igual à minha, como se não tivesse havido hiato algum, ou ao contrário, como se tivéssemos ficado tempo demais tão longe, e imediatamente após me deixar sem fôlego cola um post-it sobre a minha boca, me pede pra te esperar ali embaixo e vai receber os amigos que já começam a chegar, leio um “te amo” escrito em caligrafia estranha, noto que você está mais alto, vejo de longe uma festa começar, você no meio, lançando pedidos de espera com os olhos, eu desço as escadas sem entender, você morava em outro país, e de repente acordo e percebo que, apesar dos esforços, ainda dói um bocado, me dou uns tapinhas nas costas e digo pra mim mesma “calma, vai passar, já passou”. 


sábado, maio 14, 2016

Desvios


Exercício, parte 1:
Trace um caminho pela sala e repita esse caminho em 8, 4, 2 e 1 tempo. Repita toda a sequência acrescentando movimentos com os braços. Repita uma terceira vez incluindo o tronco na movimentação. Na quarta vez feche os olhos, esqueça os tempos e faça o caminho o mais lentamente possível, continuando a movimentar braços e tronco.

Parte 2:
Quando a próxima música começar, ainda de olhos fechados, esqueça o caminho, explore outras direções e continue se movendo o mais lentamente que conseguir.

Parte 3:
Percebeu que você estava num estado de recolhimento, executando gestos que quase entravam em si, e quando pôde abandonar o caminho a sua postura mudou e tanta coisa começou a acontecer no seu corpo? 


quarta-feira, fevereiro 24, 2016

The blues

(Para Elisa)

"Once I travelled to the Tate in London to see the blue paintings of Yves Klein, who invented and patented his own shade of ultramarine, International Klein Blue (IKB), then painted canvases and objects with it throughout a period of his life dubbed ‘l’époque bleue’. Standing in front of these blue paintings, or propositions, at the Tate, feeling their blue radiate out so hotly that it seemed to be touching, perhaps even hurting my eyeballs, I wrote but one phrase in my notebook: too much. I had come all this way, and I could barely look. Perhaps I had inadvertently brushed up against the Buddhist axiom , that enlightenment is the ultimate disappointment. ‘From the mountain you see the mountain’, wrote Emerson."
Maggie Nelson, Bluets (Wave Books, 2009)

Os primeiros grifos da minha edição de Estação Atocha, do Ben Lerner, estão nas páginas 10 e 11, no trecho em que o narrador fala sobre os guardas de museus e o fato de os mesmos passarem boa parte de suas vidas diante de quadros eternos, ao passo em que o público só se dirige a eles para perguntar pelos banheiros e pelo horário de encerramento dos museus. 10:04, o meu segundo Ben Lerner, chegou no fundo de uma caixa da Amazon, debaixo de dois livros da Maggie Nelson. Dele, até agora, só sei que tem alguma relação com o De volta para o futuro – o exato horário em que um raio atingiu a torre do relógio, permitindo a Marty McFly voltar a 1985 no primeiro filme da triologia – e que traz na quarta-capa da edição americana um elogio de Maggie Nelson.

Outra caixa da Amazon, recebida no mesmo dia da primeira, continha, por sua vez, 6 livros da Cosac, porque resolvi estocar e presentear amigos com alguns livros que amo e que logo não poderemos mais comprar. Nove livros numa terça-feira em que que abri espaço nas estantes, encontrando, por isso, Uma idéia toda azul, com acento mesmo, livro da Marina Colasanti com a etiqueta da Malasartes na folha de rosto, um dos poucos que guardei da infância. Não tenho nenhuma recordação da história, mas numa folheada encontrei fadas e Kublai Kahn, o que me fez pensar que talvez seja um Calvino disfarçado.

Resolvi começar por Bluets, um ensaio da Maggie Nelson que trata de tudo o que é azul, principalmente a saudade. Abri o livro enquanto aguardava uma sessão de cinema, grifei uma frase na página 5 e por coincidência encontrei uma amiga que também estava ali sozinha para o mesmo horário.

A garota dinamarquesa é um filme azul acinzentado, sobretudo quando Eddie Redmayne e Alicia Vikander estão em Copenhague. As paredes do apartamento dos protagonistas são azuis, muitos dos figurinos de ambos são azuis – você e eu cometeríamos crimes por algumas das peças usadas por Gerda – e a complexidade da questão central é da mesma cor, em uma de suas muitas tonalidades. As cenas parecem pinturas, daquelas que nos fazem desafiar os guardiães da ordem dos museus, o impulso é tocá-las para ver o que há por trás das tintas.

Sonhei com nosso antigo trabalho, o que tem acontecido religiosamente de duas a três vezes por semana, e nessas ocasiões acordo e vou pedalando para a yoga, quase sempre com roupas verdes, simbólico, talvez. E ao chegar no trabalho novo esbarrei com uma reportagem sobre as civilizações antigas que não reconheciam a cor azul. Não li, ficou guardada para depois, Maggie Nelson foi mais urgente. Hesitei, mas acabei colando na parede do novo escritório o velho postal de uma pintura azul do Yves Klein que habitava aquela nossa baia também azul, mesmo que fosse too much.

Terminei o livro enquanto assava batatas. Quis plagiá-lo. E pensei que escrever é sempre uma tentativa fracassada de plagiar o que vai nas nossas cabeças e peles, ainda que, quando os outros o fazem, não pareça nada disso. Parece apenas que pode dar certo, de algum jeito.

Pensei numa conversa que tivemos há pouco tempo, quando o Tico falou que gostava de McDonald’s e do De volta para o futuro quando está triste. Acho que é nessa lembrança que esse texto talvez faça algum sentido.

A playlist mais óbvia começaria com “Almost blue” ou "Space Oddity" ("Planet Earth is blue and there's nothing I can do"), mas acabei me lembrando de “Um bilhetinho todo azul”, música do Cazuza, que termina com os versos “Ver o amor feito um abraço curto /Pra não sufocar”.